Derrota na
votação da MP 692 que aumenta taxação sobre venda de imóveis, inclusive
de pequenas empresas, indica que situação não é nada favorável à
presidente Dilma no Legislativo
Brasília - A primeira semana deste ano legislativo na Câmara dos
Deputados mostrou que o governo terá de redobrar as ações de
convencimento da base aliada para aprovar as matérias pendentes do
ajuste fiscal e matéria polêmicas ao equilíbrio das contas públicas, a
exemplo da CPMF e da Reforma da Previdência.
Isso ficou demonstrado anteontem à noite na votação da Medida Provisória (MP) 692, que aumenta a tributação do Imposto de Renda
sobre ganhos de capital na venda de ativos como imóveis e ações,
inclusive de pessoas físicas e micro e pequenas empresas optantes do
regime tributário do Supersimples. Os ganhos de capital são a diferença
obtida entre o valor de compra e o valor de venda dos bens.
Com apoio de partidos da base aliada e da oposição, foi mantido o
texto do relator da matéria em comissão especial, o senador
oposicionista Tasso Jereissatti (PSDB-CE), que diminuiu alíquotas e
reduziu à metade a expectativa de receita prevista no texto enviado pelo
Executivo em torno de R$ 1,87 bilhão. A matéria seguiu para o Senado. A
MP propunha, originalmente, a alíquota 15% para os ganhos até R$ 1
milhão e criava outras três faixas com alíquotas maiores (20%, 25% e 30)
para ganhos de ganhos superiores.
Entretanto, o relator diminuiu as alíquotas de cada faixa e aumentou
os valores. Assim, para lucros entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões, a
alíquota será de 17,5%; acima de R$ 10 milhões e até R$ 30 milhões, de
20%; e acima de R$ 30 milhões, 22,5%. "A nossa posição é a de votar
sempre contra qualquer tipo de qualquer tributo", afirmou ao DCI o novo
líder do PSDB, Antônio Imbassahy (BA). "Esse governo atrapalha o
empreendedor, que pune, que acha que ter lucro é um crime. É uma
percepção populista de que lucrar é errado. Precisa ter mais estímulo em
favor da riqueza, do ambiente de negócios", disse.
"Essa falsa euforia da ida da presidente ao Congresso mudou de um dia
pro outro. É importante a presidente ir ao Congresso, mas desacreditada
como está, o resultado efetivo não existe, em nenhuma votação", opinou
Imbassahy.
Um destaque do PT à MP tentou recuperar a redação original. Mas
parlamentares de partidos da base aliada, como PMDB, PP, PR e PSD,
orientaram votação contra a emenda, que ganhou apenas 141 votos sim e
223 votos não. Em plenário, a MP foi aprovada por 205 votos contra 176.
"Mais uma vez, o governo foi jogado às cordas, porque não pode contar
com o apoio dos partidos que compõem sua base de sustentação na Câmara.
Nem quem é da base acredita no governo que tem", comemorou o novo líder
do DEM, deputado Pauderney Avelino (AM).
Alíquota menor
Os ministros da Casa Civil, Jaques Wagner, e da Secretaria de
Governo, Ricardo Berzoini, conversaram ontem, pela manhã e minimizaram
as mudanças no texto final da Medida Provisória.
Na avaliação do chamado núcleo duro do Palácio do Planalto, a
alteração realizada na Câmara não significou uma derrota para o governo.
"A alíquota um pouco menor não significa derrota", afirmou uma fonte do Planalto, rejeitando a ideia de derrota.
Os líderes do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), e
do PT, deputado Afonso Florence (BA), consideraram até positivo o início
dos trabalhos legislativos de 2016 com a aprovação da MP 692/15.
O líder do governo afirmou que o governo está vencendo a obstrução de
uma oposição que não tem compromisso com a estabilidade econômica e,
muito menos, com o equilíbrio fiscal do Estado brasileiro.
"Além disso, estamos sinalizando para o País que o governo da presidenta Dilma tem uma base aliada no Congresso", ressaltou.
Também o líder da Bancada do PT, deputado Afonso Florence, afirmou
que a MP é fundamental para reequilibrar as contas públicas. Florence
ressaltou ainda que apenas "aqueles muito ricos" vão ter aumento na
tributação.
"Quem tem lucro com a venda de imóvel acima de um milhão de reais é
rico. Então estamos cobrando imposto dos mais ricos para garantir
serviço público para os trabalhadores e as trabalhadoras", disse.
Segundo interlocutores da presidente Dilma Rousseff, entretanto,
mesmo com votos contrários de deputados de partidos da base, o placar de
205 votos a 176 dá uma sinalização positiva para a retomada dos
trabalhos do ano legislativo. Houve ainda duas abstenções, sendo uma
delas do deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), e 20 deputados entraram em
obstrução.
Fonte: DCI - SP
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