Com o acréscimo de cerca de um milhão de pessoas a cada ano desde 2012, o programa microempreendedor individual
(MEI)
atingiu ao fim de 2015 a marca de 5,6 milhões de inscritos em todo o
país, um crescimento de 22% na comparação com 2014. No Paraná, o sexto
estado com o maior número de optantes, são 315 mil pessoas formalizadas,
um aumento de 25%. O crescimento acelerado desde a criação da
modalidade, que entrou em vigor em 2009, surpreendeu até mesmo o Sebrae,
instituição de fomento à micro e pequenas empresas. A instituição
previu, no início de 2015, que a crise poderia frear a formalização,
cenário que não se concretizou no fim do ano. “No curto prazo, prevemos
que o programa vai continuar crescendo nesse ritmo forte”, afirma o
analista do Núcleo de Estudos e Pesquisas do Sebrae, Rafael Moreira.
Profissões
As profissões que lideram a adesão ao programa são varejista de
artigos do vestuário e acessórios (588 mil), cabelereiros, manicures e
pedicures (439 mil), pedreiro (236 mil), lanchonetes e similares (169
mil) e minimercados e mercearias (146 mil). No Paraná, o cenário é
parecido, com exceção da quinta colocação, ocupada por pintor de parede,
com 9 mil optantes.
A facilidade de inscrição, o custo baixo e o acesso a benefícios
previdenciários são fatores que explicam o alto número de adesões ao
MEI.
Qualquer pessoa acima de 18 anos que não seja sócio ou titular de
outra empresa e fature até R$ 60 mil por ano pode se inscrever na
modalidade através do Portal do Empreendedor. Não é preciso apresentar
nenhum documento e o cadastro demora, em média, 15 minutos.
Baixo custo
Outra vantagem é o baixo custo do programa, criado pelo governo para
estimular a formalização e a contribuição à Previdência. A taxa varia
entre R$ 45 e R$ 50 mensais, dependendo da atividade exercida, e dá
direto a
CNPJ, emissão de
nota fiscal e a benefícios como salário-maternidade, auxílio-doença e aposentadoria.
Para o analista do Sebrae, o grande
estoque
de trabalhadores informais no Brasil também contribui para o
crescimento do programa. Segundo dados da Pnad Contínua, medida pelo
IBGE, no 3º trimestre de 2015, o Brasil tinha 22 milhões de pessoas
trabalhando por conta própria, entre formais e informais.
Média da inadimplência dos MEIs em 2015 foi de 53,5%
Apesar do alto número de adesões, a inadimplência é um problema a ser
combatido dentro do programa Microempreendedor Individual
(MEI) . Em 2015, a taxa média de pagamentos não realizados em dia foi de 53,5% no Brasil e de 46,7% no Paraná.
Como o custo para participar é baixo (R$ 50 por mês, no máximo), a
falta de informação é o que explica a inadimplência, avalia o diretor
político e parlamentar da Federação Nacional das Empresas de Serviços
Contábeis (Fenacon), Valdir Pietrobon. Ele diz que existem pessoas que
nem sabem da necessidade de pagar um valor fixo mensal e outras que
acreditam que, quando não trabalham, não precisam contribuir, o que é
falso.
Para Pietrobon, o grande problema da inadimplência é que esses
microempreendedores continuam tendo acesso aos benefícios do programa,
mesmo com pagamentos em atraso. “Se ele (o
MEI)
pagar um mês e ficar seis meses sem pagar, continua tendo acesso aos
benefícios, porque não há nenhum controle. É um bom projeto, mas
precisamos rever alguns aspectos do funcionamento”, diz.
Para diminuir a inadimplência, o dirigente acredita que o governo precisa cortar o direito de emissão de
nota fiscal
de quem tem pagamentos pendentes e estabelecer um limite de tempo
máximo para ficar sem pagar as dívidas. Atingido o período, fazer com
que a pessoa perca o direito aos benefícios.
O fácil acesso ao cadastro e a falta de controle expõem outro
problema do programa: pessoas que não atuam como empreendedores se
inscrevendo como
MEI para ter acesso à Previdência, por exemplo. “Você não precisa provar que faz alguma coisa para ser MEI”, diz Pietrobon.
Alto número de formalizados exige profissionalização
Com o número expressivo de microempreendedores individuais, o Sebrae
acredita que as atenções devem se voltar para a profissionalização
desses trabalhadores já formalizados. “Não basta só se formalizar. É
importante que o empreendedor procure fazer um planejamento cuidadoso e
procure ajuda para crescer”, afirma o analista Rafael Moreira.
Com experiência de 20 anos no mundo corporativo, a economista Mônica
Ressetti espera que a sua entrada para o empreendedorismo seja exitosa.
Ela fez a inscrição para o
MEI
em junho de 2015 e criou a Além da Renda, uma consultoria e revenda de
lingerie. A ideia surgiu quando o filho dela nasceu e a necessidade de
manter uma rotina mais equilibrada falou mais alto.
Há menos de um ano no mercado, ela faz cerca de 30 atendimentos por
mês e diz que o crescimento do negócio está dentro do planejado. “Apesar
da crise, estamos alcançando resultados positivos”, avalia a
empresária, que conta com a parceria da psicóloga Lúcia Fernandes, que
também pretende se formalizar neste ano. “A opção pelo
MEI é a mais segura, pois você consegue testar sem burocracias se o negócio ganha corpo com o tempo”, diz Lucia.
Mudanças
Os microempreendedores individuais precisam estar atentos a duas
mudanças no programa. A partir deste ano, não será mais enviado o Carnê
de Cidadania (boleto de pagamento da taxa do programa) pelos Correios.
Para obter os boletos, os MEIs deverão imprimir o documento diretamente
no Portal do Empreendedor. O preço também foi reajustado em 2016. A
partir de fevereiro, os novos valores fixos mensais são de R$ 45 para
comércio ou indústria, R$ 49 para prestação de serviços e R$ 50 para
quem atua com comércio e serviços.
R$ 90 mil
Um projeto de lei em tramitação no Senado prevê o aumento dos limites de enquadramento do
Simples Nacional. O PLC 125/2015 eleva de R$ 60 mil para R$ 90 mil o teto da receita bruta anual para ser microempreendedor individual
(MEI)
, de R$ 360 mil para R$ 900 mil para microempresa e de R$ 3,6 milhões
para R$ 14,4 milhões o da empresa de pequeno porte. O projeto foi
aprovado pela Comissão de Assuntos Econômicos e agora aguarda aprovação
em plenário.
Em casa
Será analisado nesta terça-feira (16) o projeto que permite ao
microempreendedor utilizar sua casa como sede da empresa. Em alguns
estados, a legislação não permite que o endereço do empreendimento
coincida com o endereço residencial.O texto do PLC 167/2015 Complementar
será apreciado pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado e, se
aprovado, segue para votação do plenário.
Por: Jéssica Sant’Ana
Fonte: Gazeta do Povo - PR