Em meio à
recessão e às dificuldades do governo para aumentar a arrecadação –
apesar da alta de vários tributos neste ano –, as contas públicas
continuam com resultado sofrível, segundo números divulgados pela
Secretaria do Tesouro Nacional nesta quinta-feira (26).
Em outubro, foi registrado um déficit primário (despesas maiores que receitas, sem contar os juros
da dívida) de R$ 12,27 bilhões. É o pior resultado para este mês desde o
início da série histórica, em 1997. Até então, o maior déficit para
este mês havia sido registrado 1998, no valor de R$ 1,46 bilhão.
Nos dez primeiros meses deste ano, as contas do governo tiveram um
déficit primário de R$ 33,09 bilhões. Com isso, também registraram o
pior resultado da série histórica, iniciada em 1997, para este período –
superando o ano de 2014, que era o maior déficit da série (-R$ 11,63
bilhões).
Revisão da meta fiscal
Por conta do resultado ruim das contas públicas neste ano, o
Executivo anunciou, no mês passado, uma nova revisão da meta fiscal de
2015. A meta passou de um superávit, nas contas do governo, para um
déficit fiscal de R$ 51,8 bilhões – o pior resultado da história. Essa
revisão, porém, ainda tem de passar pelo CongressoNacional.
O governo admitiu ainda que o valor do rombo pode ser maior caso seja
incluído o pagamento das chamadas "pedaladas fiscais" (as dívidas da
União com os bancos públicos), e não se confirme a receita de R$ 11
bilhões prevista com o leilão de hidrelétricas (que o governo já
anunciou que será pago somente em 2016). O déficit pode atingir, deste
modo, quase R$ 120 bilhões.
Receitas, despesas e investimentos
As receitas totais (a arrecadação) subiram 2,7% nos dez primeiros
meses ano (em termos nominais, sem descontar a inflação), contra o mesmo
período do ano passado, para R$ 1,02 trilhão. O aumento das receitas
foi de R$ 27,2 bilhões sobre o mesmo período do ano passado.
Ao mesmo tempo, as despesas totais subiram quase o dobro nos dez
primeiros meses deste ano (ainda em termos nominais): 5,1%, para R$ 885
bilhões. Neste caso, o aumento foi de R$ 42,85 bilhões. Os gastos
somente de custeio, por sua vez, avançaram 9,2% na parcial deste ano,
para R$ 198 bilhões – um aumento de R$ 16,81 bilhões.
Já no caso dos investimentos, porém, houve forte redução de gastos.
As despesas com investimentos caíram 33,4% nos dez primeiros meses deste
ano, para R$ 45,85 bilhões. A queda frente ao mesmo período de 2014 foi
de R$ 22,95 bilhões, de acordo com o Tesouro.
Pagamento de subsídios
Segundo números oficiais, o governo está retomando o pagamento de
subsídios – cuja despesa estava atrasada no ano passado nos episódios
que estão relacionados com as chamadas "pedaladas fiscais", em análise
no Tribunal de Contas da União (TCU). O governo admitiu recentemente que
as "pedaladas" somaram R$ 57 bilhões.
De janeiro a outubro deste ano, o pagamento de subsídios somou R$
22,5 bilhões, com aumento de 192% em relação ao mesmo período do ano
passado, quando estas despesas somaram R$ 7,7 bilhões. As chamadas
"operações oficiais de crédito e reordenamento de passivos" passaram de
R$ 3,93 bilhões, nos dez primeiros meses de 2014, para R$ 17,23 bilhões
no mesmo período deste ano – um aumento de 337%, ou R$ 13,3 bilhões.
Dividendos e concessões
Além do fraco comportamento da arrecadação, fruto do baixo ritmo da atividade econômica, o governo também informou que recebeu menos recursos de dividendos de empresas estatais.
Além do fraco comportamento da arrecadação, fruto do baixo ritmo da atividade econômica, o governo também informou que recebeu menos recursos de dividendos de empresas estatais.
De janeiro a outubro de 2015, o governo recebeu R$ 6,03 bilhões em
dividendos (parcelas de lucros), contra R$ 17,77 bilhões no mesmo
período de 2014.
Em concessões, porém, o governo recebeu mais valores de janeiro a
outubro deste ano (R$ 5,62 bilhões) contra o mesmo período do ano
passado (R$ 2,8 bilhões).
O governo informou ainda que foi realizado um pagamento de R$ 1,25
bilhão para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) nos nove
primeiros meses deste ano, em comparação com R$ 8 bilhões no mesmo
período do ano passado.
Apesar de ter prometido não fazer pagamentos para a CDE neste ano,
foi paga uma última parcela em janeiro. A CDE é um fundo por meio do
qual realiza ações no setor elétrico, entre elas o financiamento de
programas como o Luz para Todos, subsídio à conta de luz de famílias de
baixa renda, compra de combustível para termelétricas e pagamento de
indenizações para empresas.
Medidas de ajuste
Para tentar melhorar o desempenho das contas públicas neste ano, o governo subiu tributos sobre combustíveis, automóveis, empréstimos, importados, receitas financeiras de empresas, exportações de produtos manufaturados, cerveja, refrigerantes, cosméticos e folha de pagamentos. A alta da tributação sobre a folha começa a valer, porém, somente em 2016.
Para tentar melhorar o desempenho das contas públicas neste ano, o governo subiu tributos sobre combustíveis, automóveis, empréstimos, importados, receitas financeiras de empresas, exportações de produtos manufaturados, cerveja, refrigerantes, cosméticos e folha de pagamentos. A alta da tributação sobre a folha começa a valer, porém, somente em 2016.
O governo também limitou benefícios sociais, como o
seguro-desemprego, o auxílio-doença, o abono salarial e a pensão por
morte, medidas já aprovadas pelo Congresso Nacional.
Além disso, efetuou um bloqueio inicial de R$ 69,9 bilhões no
orçamento deste ano, valor que foi acrescido de outros R$ 8,6 bilhões no
mês passado. Os principais itens afetados pelo contingenciamento do
orçamento de 2015 são os investimentos e as emendas parlamentares.
Fonte: G1