São Paulo -
A atividade industrial continuará em retração no Brasil nos próximos
meses, apesar do ajuste no nível dos estoques das fábricas. Com a
demanda interna ainda em queda, os empresários esperam novos cortes na
produção.
"A demanda deve continuar caindo nos próximos dois ou três meses e já
observamos mais empresas projetando queda na produção", afirmou o
superintendente adjunto para ciclos econômicos da Fundação Getulio
Vargas (FGV), Aloisio Campelo.
De acordo com a Sondagem da Indústria, divulgada ontem pela FGV, o
indicador de produção prevista pelos empresários caiu 2,0 pontos em
março para 72,5 pontos, o menor nível da série histórica. Esse
componente foi o principal fator negativo sobre as expectativas do
setor.
"O câmbio mais alto, que favorece as exportações, o mercado de
trabalho mais frouxo, fator que tem tornado a mão de obra mais barata, e
o ajuste no nível dos estoques são dados favoráveis para o setor, mas
que não se traduzem em uma melhora do cenário porque a demanda interna
continua caindo muito, superando o impacto positivo desses fatores",
explicou Campelo, da FGV.
Ele lembrou que o movimento de ajuste nos estoques iniciado pelas
indústrias no ano passado, ainda não terminou. Em sondagem, a FGV apurou
que o percentual de empresas com estoques excessivos teve baixa de
17,7% para 17,0% na passagem de fevereiro para março. Já o percentual de
indústrias com estoques insuficientes subiu de 5,7% para 6,2% em igual
comparação. Em março de 2015, o percentual de estoques excessivos e
insuficientes estava em 14,7% e 3,9%, respectivamente.
O recuo nos estoques foi um dos principais componentes com influência
favorável na composição do índice que mede a confiança dos industriais
sobre a situação atual do setor. Em março, o Índice da Situação Atual
(ISA) chegou a 78,6 pontos, acima dos 77,1 pontos de fevereiro. No
entanto, abaixo dos 80,9 pontos registrados em março do ano passado.
Já o Índice de Expectativas (IE) apurado pela FGV recuou de 72,6
pontos em fevereiro para 72,0 pontos em março. Apesar da piora das
perspectivas, a melhora da avaliação sobre a situação atual levou a uma
alta de 0,4 ponto no Índice de Confiança da Indústria (ICI) para 75,1
pontos em março. Em igual mês de 2015, o ICI estava em 79,5 pontos.
"Se olharmos a curva de tendência desses indicadores nos últimos três
anos é possível identificar uma certa estabilização, mas é uma
acomodação no pior patamar histórico e a perspectiva para os meses
seguintes continua muito ruim", destacou Aloisio Campelo.
Na avaliação do economista-chefe da Gradual Investimentos, André
Perfeito, esses indicadores sinalizam uma estabilidade das expectativas
do dos industriais. Mas ele pondera que os números não indicam melhora.
"A produção continuará caindo, considerando a retração esperada para e
economia do País este ano", disse Perfeito. Dados do último Boletim
Focus, do Banco Central (BC), mostram estimativa de retração de 3,66% no
Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2016.
Ociosidade
A utilização da capacidade instalada (UCI) avançou 0,5 ponto
percentual para 77,6% em fevereiro ante janeiro, na série livre de
influências sazonais. Mas na comparação com fevereiro do ano passado, o
uso do parque fabril brasileiro recuou 2,2 pontos percentuais, conforme
os Indicadores Industriais, divulgados ontem pela Confederação Nacional
da Indústria (CNI).
Jéssica Kruckenfellner
Fonte: DCI
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