O
brasileiro costuma ser personagem, e não autor, de sua própria história
profissional: via de regra, ele não “escreve” a narrativa da sua
carreira, mas apenas reage aos seus acontecimentos de forma passiva e
automática.
O diagnóstico é de Joseph Teperman, sócio-fundador da consultoria de
recrutamento Innit. "Vejo muitos executivos construírem sua trajetória
aleatoriamente, sem traçar metas nem avaliar riscos", diz ele.
Muitas vezes, a decisão de mudar de área, cargo ou empresa é motivada
por ganhos financeiros imediatos ou simplesmente pelo convite de um
amigo, ex-colega ou ex-chefe, por exemplo.
A falta de planejamento de carreira é mais nociva do
que se imagina. Segundo Teperman, profissionais que não têm um olhar a
curto, médio e longo prazo sobre sua trajetória perdem oportunidades
valiosas e demoram mais para crescer.
Uma saída interessante para o problema é empregar raciocínios típicos domercado financeiro na condução da sua vida profissional.
A vantagem de pensar como um investidor é adquirir visão sistêmica e
priorizar a análise lógica dos riscos e oportunidades de cada movimento
de carreira.
“Se você enxergar o seu trabalho como o seu maior bem, ou ativo, pode
tomar decisões mais conscientes, precisas e acertadas”, diz o
especialista.
Veja a seguir 4 lições sobre planejamento que o mundo financeiro pode ensinar a qualquer profissional:
1. Defina seus objetivos e estabeleça prazos de investimento
Do mesmo modo como se faria com uma aplicação financeira, é
fundamental definir metas para a sua carreira. Você pode traçar
objetivos gerais e específicos, e para cada um deles estabelecer prazos
anuais, com revisões trimestrais. Estabelecer alvos e datas para
atingi-los ajudará você a tomar decisões melhores.
Suponha que o seu objetivo seja se tornar CEO daqui a 20 anos. Munido
de um planejamento estratégico e um cronograma, dificilmente você fará
movimentos que o desviem do seu propósito de chegar à presidência.
“Você sabe que precisa ter habilidades comerciais fortes para ser
CEO, então não aceitará um cargo completamente fora dessa área só por
causa de um salário mais alto, por exemplo”, explica Teperman.
2. Antes de tomar uma decisão, avalie o impacto para a sua “liquidez profissional”
No mercado financeiro, "liquidez" significa a capacidade de
transformar um ativo em dinheiro, isto é, a facilidade de vender um
determinado recurso ou bem. Teperman propõe uma tradução do termo para o
universo da carreira: a liquidez de um profissional seria sua
empregabilidade - a facilidade de vender o seu trabalho para um
determinado empregador.
Se você vai aceitar uma vaga em outra cidade ou estado, por exemplo, é
importante avaliar se a mudança não pode afastá-lo do seu networking e,
com isso, reduzir as suas chances de conseguir uma recolocação no
futuro.
A mesma preocupação deve existir ao avaliar uma oportunidade numa
área específica demais, que pode torná-lo um profissional “coringa” e
dificultar novas contratações.
3. Diversifique os seus investimentos
Quando se fala em dinheiro, quem nunca ouviu a recomendação “Não
ponha todos os ovos numa cesta só”? O mesmo raciocínio pode ser aplicado
à gestão da carreira. Buscar fontes de renda alternativas ao emprego
tradicional pode ser uma tática interessante, sobretudo em meio à crise
econômica.
Para ampliar suas opções, diz Rafael Souto, presidente da consultoria
Produtive, cada vez mais executivos têm optado pela pós-graduação stricto sensu. Além
de render salários mais altos nas empresas, mestrados e doutorados
abrem portas para uma segunda opção de carreira: a de professor
universitário.
Um leque amplo de possibilidades de trabalho também depende de um
networking extenso e heterogêneo, diz Teperman. Quanto mais diversas
forem as suas conexões, mais fácil será criar pontes entre profissionais
e, assim, tornar-se uma referência para os seus pares.
4. Avalie a situação de mercado de potenciais empregadores
Se você enxerga o seu trabalho como um recurso a ser aplicado, é
preciso ter um “olhar de investidor” sobre as empresas em que você
pretende atuar.
A dica de Teperman é fazer uma análise crítica sobre a situação de
mercado de todo potencial empregador. Como ele se posiciona frente a
competidores internos e externos? Qual é o perfil dos líderes? O negócio
está em expansão ou retração? Há espaço para galgar posições
internamente?
Essa avaliação - que, no caso das companhias abertas, pode ser
complementada com dados disponíveis nas páginas online de relações com
investidores ou nosite da CVM - permitirá calcular os riscos e
oportunidades de apostar num empregador. “Só com essa análise você
saberá de quais processos seletivos vale realmente participar”, conclui o
especialista.
Fonte: Exame.com
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