Numa ampla sala de reunião estão conversando dois empreendedores.
De um lado, o experiente fundador de uma das maiores empresas do
Brasil, e do outro, ouvindo atentamente seus conselhos, está um jovem
empreendedor, dono de uma das empresas brasileiras que mais crescem no
setor de tecnologia. Apesar da notável diferença de tamanho e robustez
dos negócios, ambos, guiados pela intuição que os líderes carregam
consigo, tiveram a capacidade de tirar do papel o “sonho grande” que
tinham em mente. Mas será que essa intuição, inata aos empreendedores,
atuou da mesma forma nos caminhos trilhados pelos dois? A princípio não.
Pelo menos no momento crucial da abertura de seus negócios.
Nosso experiente fundador recebeu desde muito jovem a
responsabilidade de trabalhar pra sustentar sua família. Recém-saído da
faculdade decidiu abrir a primeira empresa com pouco dinheiro e nenhum
conhecimento do negócio. A decisão de começar foi baseada na intuição e
no anseio interior de empreender que possuía desde criança. Já o nosso
jovem empreendedor digital, que apesar do bom português, não nega os
traços racionais e exatos de sua origem alemã, decidiu empreender guiado
pela razão. Junto com seu sócio, estudou o potencial do negócio no
Brasil e traçou um plano considerando todas as dificuldades do nosso
ambiente empreendedor e partiu pra execução. Duas abordagens
completamente opostas quanto ao uso da intuição, no entanto, de dois
líderes à frente de negócios bem sucedidos.
Um olhar mais profundo na história dos empreendedores citados, além
do momento inicial, mostra que não há uma única abordagem correta.
Nenhum dos dois jamais teria construído negócios de valor se usassem
somente a intuição ou a razão na tomada de suas decisões. Ambos
precisaram combinar abordagens que, principalmente, respeitassem seus
valores. Como lidar então, com situações em que os números indicam que
permanecer aderente aos valores da companhia se mostra a coisa mais
dispendiosa a se fazer? É nestes momentos em que a intuição e os valores
do líder, como excelência, ética e meritocracia entram em cena.
Contrariar os números para preservar os valores, nestes casos, parece
ser uma decisão acertada.
Esta aderência aos valores se mostra como o grande indicador da
direção correta a se seguir quando intuição e razão são contrapostas.
Todo empreendedor que se preze sempre estará munido de números para
gerir seu negócio. Seja no caixa, nos indicadores da operação ou na
opinião dos clientes. Os dados mostram o caminho mais racional a se
seguir para o bem dos negócios. Os empreendedores que a Endeavor
acompanha no Brasil tiveram que tomar decisões baseadas em números como
estes, centenas de vezes, ao longo de suas trajetórias. Mas os números
contam somente uma parte da história. A outra deve ser escrita todos os
dias, quando a intuição mostra que o que conta no longo prazo, é na
verdade, os valores de um líder bem sucedido.
Enio Borges é coordenador de apoio a empreendedores da Endeavor Brasil.
Fonte: Exame.com
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