Desde o início deste século profissionais da contabilidade
vêm superando os desafios impostos pelas mudanças técnicas. Do lado
contábil, este movimento se deu pelo processo de convergência aos
padrões internacionais. Do lado fiscal, pela introdução das tecnologias
tributárias, como o Sped e o eSocial.
Além disso, o ambiente tributário sempre foi hostil, sendo marcado
por mais de 40 alterações legais por dia e 11 milhões de regras. Tudo
isso vem sendo trabalhado, com relativo sucesso, pelos profissionais.
Entretanto, o setor se prepara para um novo e maior desafio, cuja
principal mudança não é técnica.
Surge um novo momento. O da criação do mindset empreendedor.
Seja o dono do escritório, o gestor ou o técnico, há uma imprescindível
necessidade de aprender a empreender. Para ser bem-sucedido em seu
negócio ou carreira, o profissional precisa aplicar conceitos
importantíssimos no dia a dia do trabalho.
Em especial, líderes, empresários e gestores devem dedicar boa parte
do tempo para conhecer e aplicar técnicas de gestão estratégica de
negócios, pessoas, atendimento e processos. Enfim, chegou o momento da
excelência na gestão das consultorias e organizações contábeis. Somente
assim haverá, de fato, a oferta de serviços de alto valor agregado e,
consequentemente, os clientes passarão a valorizar mais o trabalho
desses profissionais.
A questão da conformidade legal já faz parte do cotidiano do profissional da contabilidade.
O advento das tecnologias fiscais digitais trouxe um componente
inovador: a velocidade do mundo digital. Mas, desde sempre, há bons
profissionais alertando e orientando os demais acerca destes temas. Não
que não haja novos desafios, mas a fórmula para a superação já foi
traçada: estudar, estudar, estudar.
Agora, a grande transformação que está ocorrendo não é legal. É
comportamental. São poucas as organizações contábeis que não têm
problemas com recrutamento, seleção e desenvolvimento de pessoas. Há
muita reclamação tanto de quem contrata, quanto de quem é contratado.
Isso é sintoma de que há algo errado.
Primeiramente, é fundamental investir em gestão estratégica de
pessoas, no sentido amplo do tema. Em segundo lugar, os profissionais
técnicos precisam entender que só conhecimento técnico não é suficiente
para o sucesso na carreira. É necessário que eles sejam protagonistas de
suas vidas e busquem atitudes empreendedoras internas, ou seja, atuem
como intraempreendedores. Desenvolvam habilidades além das técnicas como
relacionamento, comunicação, proatividade.
Por outro lado, também há uma grande insatisfação do mercado
empresarial com relação aos escritórios que os atendem. Recentemente,
utilizei a metodologia global NPS (Net Promoter Score) para
avaliar esse quesito. Foram mais de 2 mil respostas de empresários.
Tivemos 42% classificados como detratores dos escritórios e 33% de
promotores. Na prática, isso mostra que temos um terço dos escritórios
trabalhando com excelência, transformando seus clientes em verdadeiros
fãs.
Enfim, se a classe contábil insistir em estudar apenas a legislação, e
negligenciar a estratégia, a gestão e o desenvolvimento de habilidades
comportamentais, este mercado nunca será valorizado pela sociedade. A
boa notícia é que um terço do mercado já percebeu isso e mudou o estilo
de atuação.
(*) Roberto Dias Duarte é sócio e presidente do Conselho
de Administração da NTW Franquia Contábil, primeira deste setor no país.
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