O governo
publicou nesta segunda-feira (30) o decreto com a descrição do Orçamento
daUnião. A medida foi publicada no "Diário Oficial da União". Esse será
o terceiro corte no ano.
O relatório de receitas e despesas do Orçamento, enviado no último
dia 20 pelo governo ao Congresso Nacional, já alertava para o risco de
"graves consequências para a sociedade", como a interrupção de serviços
públicos, em caso de um novo contingenciamento, e que um corte de R$ 10
bilhões significaria o bloqueio praticamente total de todas as despesas
discricionárias (não obrigatórias) da máquina pública.
Meta fiscal de 2015
Mesmo com o novo corte, não será possível atingir a meta fiscal de R$ 55,3 bilhões de superávit primário (economia para pagar juros da dívida pública e tentar manter sua trajetória de queda) que está legalmente em vigor.
Até outubro, as contas apresentaram umrombo de R$ 33 bilhões, o maior
da história. Para cumprir a meta deste ano, teria de haver um superávit
de R$ 88,3 bilhões em novembro e dezembro.
Recentemente, o governo enviou ao Congresso uma proposta de alteração da meta, para um déficit de R$ 51,8 bilhões.
Se forem incluídas as chamadas "pedaladas" fiscais – os atrasos de
pagamento aos bancos públicos dos últimos anos, que o governo pode ter
que pagar este ano – e uma eventual frustração de receitas do leilão de
hidrelétricas (que pode ficar para 2016), o resultado negativo pode
chegar a R$ 119,9 bilhões pelo projeto que já foi aprovado pela Comissão
Mista de Orçamento.
Votação adiada no Congresso
O governo pode reverter o bloqueio de R$ 10 bilhões se a mudança da
meta fiscal, para um déficit de até R$ 119,9 bilhões neste ano, for
autorizada pelo plenário do Congresso nos próximos dias.
A expectativa do governo era de que isso acontecesse nesta
quarta-feira. Entretanto, a prisão do senador Delcídio do Amaral (PT-MS)
e do banqueiro André Esteves, acusados de estarem atrapalhando as
apurações da Operação Lava Jato, impediu a votação da matéria no
plenário do Congresso Nacional.
Segundo explicou o Planalto, posicionamento mais recente do Tribunal
de Contas da União (TCU), se o Congresso não aprovar a revisão da meta
fiscal, o Executivo fica obrigado a bloquear as verbas discricionárias
(não obrigatórias). A expectativa agora é que o Legislativo analise a
revisão na próxima semana.
Conforme a Presidência, uma nota técnica será divulgada pelo governo
na próxima segunda com as explicações e detalhes do novo
contingenciamento no Orçamento. De acordo com o Ministério do
Planejamento, o corte consiste em retardar ou inexecutar parte da
programação de despesas previstas na Lei Orçamentária.
Lei de Responsabilidade Fiscal
Como o projeto que altera a meta fiscal passou apenas pela Comissão
Mista de Orçamento, mas não pelo plenário, o governo teria,
teoricamente, de fazer o contingenciamento de despesas para atingir a o
objetivo fiscal que está valendo (superávit primário de R$ 55,3 bilhões
para este ano) por meio de decreto presidencial.
Isso porque a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) diz que, se for
verificado, ao final de um bimestre, que a realização da receita poderá
não comportar o cumprimento das metas de resultado primário ou nominal
estabelecidas, os "Poderes e o Ministério Público promoverão, por ato
próprio e nos montantes necessários, nos trinta dias subseqüentes,
limitação de empenho e movimentação financeira, segundo os critérios
fixados pela lei de diretrizes orçamentárias".
Com isso, caso não realize o bloqueio de gastos, o governo poderá vir
a incorrer em crime de reponsabilidade e ter as contas de 2015
reprovadas pelo TCU – como já aconteceu com as contas do ano passado.
Oficialmente, o TCU informou que "não há orientação do TCU sobre
cumprimento de superávit primário em 2015, pois não há fiscalização do
tribunal sobre o assunto até o momento", mas observou que a LRF
estabelece a necessidade de bloqueio de recursos caso seja necessário.
Viagens canceladas
A presidente Dilma está preocupada com as dificuldades para aprovar
no Legislativo o projeto que revisa a meta fiscal de 2015. Por isso,
ela cancelou as viagens que faria na semana que vem ao Japão e ao
Vietnã.
"A presidenta Dilma Rousseff decidiu cancelar as viagens ao Vietnã e
ao Japão porque a partir de 1º de dezembro o governo não pode mais
empenhar novas despesas discricionárias, exceto aquelas essenciais ao
funcionamento do estado e do interesse público. Não se trata de problema
financeiro, mas, sim, orçamentário", informou a Secretaria de
Comunicação.
Rombo nas contas públicas
No relatório de receitas e despesas do orçamento, divulgado no dia
20, já enviado ao Congresso Nacional, o governo sublinha a importância
de o Legislativo aprovar a alteração da meta fiscal deste ano e informa
que o bloqueio de despesas necessário para atingir a meta em vigor seria
de R$ 105,4 bilhões.
Informa ainda que o limite disponível de despesas discricionárias
(não obrigatórias) do Poder Executivo é de R$ 113,8 bilhões, mas que R$
30,5 bilhões são necessários ao cumprimento dos mínimos constitucionais
de Saúde e Educação, restando, portanto, R$ 83,3 bilhões que poderiam
ser contingenciados. Entretanto, acrescenta que o bloqueio destes R$
83,3 bilhões "não é factível neste momento diante da atual execução
orçamentária das despesas do Poder Executivo".
'Graves consequências'
Ainda no relatório de receitas e despesas, o governo diz que, até o
dia 10 de novembro, R$ 99,3 bilhões já foram empenhados, restando um
saldo de apenas R$ 14,5 bilhões que teoricamente poderiam ser
contingenciados. Deste valor, porém, o governo diz que R$ 1,97 bilhão
refere-se ao mínimo de Saúde e outros R$ 1,9 bilhão a emendas
impositivas.
E acrescenta: “O cenário o contingenciamento possível das despesas do
Poder Executivo, exceto emendas, é de R$ 10,7 bilhões, o que significa o
bloqueio total de todas as demais despesas discricionárias do Poder
Executivo exceto a Saúde”.
Mais adiante, o governo informa que o bloqueio destes R$ 10 bilhões,
que acabou por ser autorizado nesta sexta-feira pela presidente Dilma
Rousseff, levaria a "graves consequências para a sociedade, com a
interrupção da prestação de importantes serviços públicos e da execução
de investimentos necessários à manutenção da infraestrutura do País e à
retomada do crescimento econômico".
Outros cortes
Em maio, foi anunciado um contingenciamento de R$ 69,9 bilhões na
peça orçamenatária, valor que foi acrescido de outros R$ 8,6 bilhões em
julho. Até então, os principais itens afetados pelo contingenciamento do
orçamento de 2015 são os investimentos e as emendas parlamentares.
Fonte: G1
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