Enquanto os
birôs de crédito, como Boa Vista SCPC e Serasa, tentam derrubar as
novas exigências criadas no Estado de São Paulo para negativar
consumidores inadimplentes, no Congresso tramitam projetos que expandem
as mesmas burocracias para todo o país.
São projetos antigos, que orbitam a Câmara dos Deputados e o Senado
Federal há quase uma década, mas que nos últimos meses ganharam impulso.
Entre onze projetos que tratam do tema, dois podem ser destacados pela
velocidade com que passaram a tramitar.
O Projeto de Lei (PL) n° 496, de 2007, que estava adormecido desde
2011 na Câmara, foi desarquivado agora em 2015. Está sendo analisado,
desde novembro, pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara.
Na última quarta-feira (2/12) um requerimento do deputado Nelson
Marchezan Junior (PSDB-RS) pediu que o mérito do projeto fosse
examinado.
Há também o Projeto de Lei da Câmara (PLC) n° 85, de 2009, que está
em análise na Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e
Fiscalização (CMA) do Senado.
Ambos os projetos tratam da necessidade de os birôs de crédito
enviarem carta com Aviso de Recebimento (AR) para informarem o
consumidor inadimplente da negativação do seu nome.
“Projetos nesse sentido sempre são desarquivados no Congresso. Quando
isso acontece, explicamos aos legisladores sobre as consequências dos
textos serem aprovados. Normalmente os projetos são reavaliados e
arquivados. Mas agora há uma resistência maior”, diz Dirceu Gardel,
diretor jurídico da Boa Vista SCPC.
Segundo Gardel, nessa legislatura “há um grupo forte insistindo na
aprovação dos textos”. Embora o diretor da Boa Vista não tenha
mencionado quais interesses estariam por trás da aprovação dos textos,
os integrantes da recém-criada Associação Nacional dos Brirôs de Crédito
(ANBC) têm insistido que apenas os cartórios ganhariam com a
obrigatoriedade do uso do AR.
Como o AR precisa ser entregue em mãos ao destinatário, caso o
consumidor se recuse a receber a carta, seu nome somente poderá ser
incluído nos cadastros de inadimplentes caso o credor proteste a dívida
em cartório, o que envolve custos para os consumidores que pretendam
limpar o nome.
Um estudo feito pelo economista Marcos Lisboa a pedido da Federação
Brasileira dos Bancos (Febraban) aponta que os cartórios teriam uma
receita extra de R$ 20 bilhões por ano com essa movimentação resultante
do uso do AR.
A Associação dos Notários e Registradores do Brasil (Anoreg-BR)
rebate esses números. “É uma estimativa que não leva em conta as taxas
resgatadas ao Estado, ao Poder Judiciário e às Procuradorias de Justiça e
às Defensorias Públicas, além de todas as despesas de mais de 4 mil
cartórios de protesto em todo o Brasil", afirmou Claudio Marçal Freire,
vice-presidente da entidade.
A exigência do AR já é uma realidade no Estado de São Paulo, decorrente da Lei Paulista n° 15.659/2015.
Segundo Gardel, da Boa Vista SCPC, de setembro até então, cerca de 5
milhões de consumidores deixaram de ser incluídos nos cadastros de
inadimplentes porque recusaram assinar os ARs. Esse número compreende
somente consumidores do Estado de São Paulo pesquisados pela Boa Vista.
Como esses consumidores inadimplentes não aparecem nos cadastros dos
birôs, não podem ser identificados pelo varejo. Assim, muitos
comerciantes podem estar vendendo a prazo para inadimplentes, agravando
os índices de inadimplência e criandosuperendividados, segundo o diretor da Boa Vista.
“Será um desastre para a economia se a exigência for ampliada para o
Brasil. A inadimplência é um dos componentes de risco para a formação da
taxa de juros”, diz Gardel.
A associação dos birôs de crédito tem atuado em Brasília para
sensibilizar os congressistas do impacto das leis que tramitam nas casas
legislativas.
A entidade também tenta derrubar a lei paulista, que foi suspensa
entre março a setembro por decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo
(TJ-SP), mas voltou a vigorar após a liminar que suspendia seus efeitos
ser derrubada.
Fonte: Diário do comércio
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